Relato de atividade em sala de aula

CONTANDO UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO DO RACISMO(ANTI-NEGRO NA ESCOLA)

O Xadrez das Cores
11/11/2008
Ensino Fundamental - Anos Finais
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Rejane de Fátima Gomes Costa



Educar para a igualdade racial, trabalhando na perspectiva de conhecer, respeitar e valorizar a diversidade nas relações étnico-racial e religiosa.
Refletir sobre o racismo na escola, sobre a inclusão social, a resistência à opressão e ao exercício da autonomia, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino e Cultura Afro-brasileira e Africana.

Como introduzir o tema em sala de aula? Na realização da aula sobre o Círio de Nazaré foi apresentado aos alunos um abano com algumas mãos segurando uma corda (imagem conhecida pela grande maioria da turma).O objetivo da aula era o reconhecimento e a leitura da imagem, a qual expressava "as mãos do povo paraense" (povo de cor negra, parda e branca).Apresentação dos versos(identificando nossa crença religiosa)"Milagres do Povo".Copiado e recitado o verso, perguntava-se: "E você, no que crê?". Católicos e evangélicos logo se identificavam: "Eu creio em Jesus, Maria e José"; "Eu creio em todos os santos"; "De cada um eu gosto um pouquinho"; "Eu creio em Jesus como meu salvador". Muitos ficavam calados, outros generalizavam: "Eu creio em Deus". A seguir, foi apresentada uma inscrição que dizia: "Eu confio no meu orixá". Com esta afirmação houve alguns risos, caretas e até expressões como: "A senhora é macumbeira?". Outros poucos se reconheciam e logo se identificavam afirmando que tinham alguém na família que era "pai" ou "mãe-de-santo". Em outras turmas foi comentado (pela professora) a reação preconceituosa de alguns alunos, reprovando-a com um olhar, uma expressão de rejeição ou ironia, cochichos diversos e até risadas de quase toda a turma. A professora fez-se de desentendida, sem saber o que estava acontecendo, para logo a seguir confrontá-los, perguntando-lhes se não podia ter uma opção religiosa e afirmando: "Eu confio no meu orixá". Na aula seguinte, quando no quadro foi escrito "Eu confio no meu orixá" para fazer a ponte entre uma aula e outra, uma aluna (Escola Amália Paumgartten) se recusou a escrever, dizendo que "minha mãe não iria gostar de ver escrito em meu caderno esta afirmação". A professora comentou que esta atitude parecia ser preconceituosa quanto às "coisas de preto" e a aluna respondeu que "não, pois meu padrasto é negro e eles se gostam muito, porém minha mãe por ser evangélica não iria gostar de ver escrito em meu caderno esta afirmação".

Houve um momento esclarecedor sobre o racismo e suas conseqüências na vida de uma pessoa. Um confronto se estabeleceu claramente: "Macumbeiros x Evangélicos". Perguntando-se sobre a relação entre o filme assistido e a sala de aula, logo veio a resposta de uma aluna, sob forma de desabafo: "eles me chamam de macumbeira porque minha avó é mãe de santo". Os acusadores (dois garotos da quinta série) se justificaram rindo e logo a seguir, após um esclarecimento sobre esta atitude preconceituosa, uma outra garota (branca, de olhos azuis e evangélica), expressando-se de forma agressiva, afirmou: "Quem manda ela fazer o mal?", se dirigindo à colega que tem a avó "mãe de santo". A professora apresentou algumas explicações, e logo foi interrompida pela aluna ofendida: "o racista não sabe a dor que provoca numa pessoa". Mais uma vez, os alunos que estavam se sentindo maltratados tiveram a oportunidade de se expressar. Esta foi mais uma oportunidade que tivemos, em nossas aulas, de ouvirmos um pedido de ajuda.